O bullying e a inteligência emocional – Tonia Casarin

A série da Netflix “13 Reasons Why” aborda um tema muito importante, que mostra a necessidade de nós, educadores, estarmos atentos à inteligência emocional das crianças e adolescentes. Junto à série, o desafio da Baleia Azul assustou muitos pais e alertou escolas no mundo todo. Ambos fatos trazem à tona a discussão que levam os adolescentes a cometer suicídio. Um dos pontos levantados pela série é o bullying.

Neste artigo, aproveito para tratar sobre essa temática e para discutir como podemos ajudar os adolescentes em suas questões na vida, baseando os dados do PISA, que desde 2012 tem avaliado aspectos relacionados ao bem-estar dos alunos no mundo.

 O bullying e a inteligência emocional o que você precisa saber

O que é o PISA?

Tendo em vista a necessidade de gerar evidências internacionais de comparação de desempenho estudantil, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou uma avaliação trienal com alunos de 15 anos ao redor do mundo, conhecida como Programa para Avaliação de Estudantes Internacionais (PISA). O PISA busca avaliar até que ponto os alunos que estão perto de terminar sua educação obrigatória adquiriram os conhecimentos e habilidades necessários para participarem da vida em sociedade.

O foco da avaliação reside nas disciplinas fundamentais de ciências, leitura e matemática e não se limita a verificar se os alunos são capazes de produzir conhecimento. Ele também analisa se eles são capazes de aplicar seus conhecimentos em ambientes desconhecidos.

A última edição, lançada em 2015, dedicou um volume inteiro ao bem-estar dos estudantes, que se refere aos aspectos cognitivos, psicológicos, sociais e físicos e habilidades que os alunos precisam ter para viver uma vida feliz e satisfatória ou seja, a inteligência socioemocional. 

Esse volume inclui dados referentes tanto a comportamentos e atitudes positivas que promovem um desenvolvimento saudável quanto a resultados negativos, como a ansiedade, que prejudicam a qualidade de vida dos estudantes.

 

Quais os números do bullying segundo o PISA?

Um dos temas abordados no PISA 2015 é o bullying. Ele dedica um capítulo à discussão da prevalência desse problema no mundo e quais estudantes estão mais propensos a serem vítimas. Além disso, analisa a relação entre bullying, desempenho escolar e outras dimensões do bem-estar dos estudantes.

De acordo com os dados coletados, por volta de 4% dos alunos de países da OCDE reportaram ser vítimas de violência física algumas vezes por mês, enquanto 11% disseram sofrer violência verbal pelo menos algumas vezes no mesmo período de tempo. Já as meninas estão menos propensas a ser vítimas de agressão física, mas tendem mais a ser objeto de boatos desagradáveis e algumas vezes devastadores em suas vidas.

Além disso, os estudantes das escolas onde o bullying é frequente pontuam 47 pontos a menos em ciências do que os alunos das escolas onde ocorrem menos episódios. É nítido nesse dado que o bullying impacta e muito o desempenho escolar. Precisamos estar com a inteligência emocional bem trabalhadada para podermos aprender. 

Outro dado bastante relevante é que os alunos que informaram ser vítimas de bullying frequentemente relataram um senso de pertencimento à escola mais fraco e menor satisfação com a vida. Eles também estão mais propensos a faltar aulas. Portanto, aqui, podemos estar atentos ao comportamento dos nossos estudantes para que possamos ajudá-los em casos assim.

O que é bullying?

O bullying é uma forma mais violenta de assédio moral que afeta não somente quem sofre a ação, mas também quem o pratica. Tanto agressor quanto vítima estão mais propensos a matar aulas, largar a escola e apresentar desempenho acadêmico pior do que os alunos que têm boas relações com seus colegas. 

Geralmente esses adolescentes costumam demonstrar sintomas de ansiedade e depressão, ter autoestima baixa, mudar seus padrões alimentares, sentir-se sozinhos e perder o interesse nas atividades cotidianas. Vale ressaltar aqui que o aluno que pratica bullying também esconde necessidades emocionais que precisam ser investigadas.

Existem diferentes formas de bullying: física, verbal, relacional (quando ocorre exclusão social ou são alvo de fofoca e outras formas de humilhação pública) e cibernética. Segundo os resultados do PISA 2015, por volta de 11% dos alunos de países da OCDE sofrem agressões verbais frequentes, 8% são objeto de boatos desagradáveis com frequência e 7% são frequentemente deixados de fora das atividades.

Numa média entre os países da OCDE, os meninos estão mais propensos do que as meninas a relatar que são vítimas de todas as formas de bullying, exceto ser deixado de fora das atividades de propósito e objeto de boatos desagradáveis.

Em relação ao desempenho acadêmico, entre os países da OCDE, os alunos com baixo desempenho tendem a relatar maior exposição a bullying físico, verbal e relacional. Isso pode ocorrer devido ao fato de as consequências emocionais, comportamentais e psicológicas do problema influenciarem na capacidade de focar nas atividades acadêmicas, como já citamos.

No que tange ao bem-estar, sabe-se que sofrer bullying, ainda mais de forma constante, é estressante para qualquer pessoa. Pesquisas mostram que um estresse moderado pode ter efeitos benéficos em humanos e animais, porém,  estar constantemente exposto a altos níveis de estresse pode ser prejudicial para a saúde psicológica e física. 

A exposição prolongada ao cortisol (conhecido como o hormônio do estresse) gera alterações na amígdala e no hipocampo, que são partes do cérebro responsáveis pela regulação das emoções. Isso pode causar ainda mais problemas em pessoas jovens, porque nessa fase o sistema responsável por manejar o estresse está particularmente sensível e ainda em desenvolvimento.

O que o PISA diz sobre o bullying?

Os resultados encontrados no PISA 2015 indicam uma associação negativa entre sofrer bullying com frequência e inúmeros indicadores de bem-estar, especificamente a sensação de pertencimento à escola, satisfação de vida, expectativas de continuar a formação acadêmica e compromisso com a escola e confiança.

Sofrer constantemente com essa forma bruta, visível e agressiva de assédio pode atrapalhar a inteligência emocional de todos os envolvidos pela vida inteira. Portanto, prevenir ou interromper esse ciclo de violência é fundamental para uma sociedade com adultos saudáveis.

Quem pode ajudar?

Escolas, professores e pais têm um papel importante no combate ao bullying. Juntos, eles podem ajudar aqueles que praticam e sofrem desse problema a trabalharem a inteligência emocional e construírem boas relações com seus colegas. 

Ademais, educadores podem diminuir questões como a vitimização e a agressão ao promoverem uma atmosfera de apoio e empatia dentro e fora de sala, assim como ao desenvolverem programas anti-bullying nas escolas. Cabe lembrar aqui a importância da relação família e escola para unir esforços, trabalhar a inteligência emocional dos adolescentes, combater esses problemas e ajudar os estudantes.

Por fim, é extremamente importante mencionar o papel dos pais na redução do impacto negativo do bullying. Pesquisas mostram que pais carinhosos podem diminuir a dor e o estresse de alunos que sofrem esse tipo de violência. Por outro lado, um ambiente familiar onde os pais criticam indevidamente seus filhos, os maltratam ou são violentos uns com os outros tem sido associado a uma maior incidência de bullying e vitimização.

Nesse sentido, de acordo com dados coletados no PISA, entre os países da OCDE a proporção média de estudantes que relataram ter sido frequentemente vítimas de bullying é substancialmente maior entre os alunos que também relataram que seus pais não costumam oferecer-lhes suporte emocional.

Sendo assim, o PISA 2015 sugere a implementação de algumas políticas, como: 

  • investir mais recursos no compartilhamento e implementação de estratégias anti-bullying efetivas; 
  • incorporar módulos de prevenção de bullying no treinamento de professores; 
  • ensinar aos alunos e professores estratégias para apoiar vítimas de bullying e se comunicar com aqueles que praticam bullying; 
  • ressaltar, dentro dos programas de prevenção de bullying, a importância dos pais se conscientizarem de seu papel de auxiliar os filhos para que se tornem agentes de prevenção, e não espectadores de todas as formas de bullying.  

Portanto, podemos perceber que o bullying está associado a inúmeros prejuízos, levando inclusive ao suicídio de muitos alunos todos os anos. Dessa forma, precisamos cada dia mais buscar formas de combatê-lo, principalmente porque com o advento da internet e das redes sociais se tornou ainda mais fácil praticá-lo, além de permitir que a humilhação tome proporções gigantescas, atingindo as vítimas mesmo fora do ambiente escolar. 

Evitar esse problema e trabalhar ferramentas que possam superá-lo são formas de trabalhar a inteligência emocional e criar uma sociedade mais justa, altruísta e empática.


Leia aqui como trabalhar as emoções em sala de aula ajudo uma turma de 3º ano a melhorar o clima de sala de aula e exterminar o bullying.

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